segunda-feira, 17 de junho de 2013

Revoluções!

       Sinceramente, pensei que esta revolta devido ao aumento nas passagens de ônibus era uma boa causa, mas seria matar uma barata com um tiro de canhão. Não via o porque de criar tanto alvoroço pra isso, quando se tem tantas outras coisas para poder termos manifestações nas ruas. Mas ai, meu caro irmão André me disse a seguinte frase: "tem de começar de algum lugar, né?". Que brilhante frase! Foi então que me inspirou a escrever como uma pequena revolução pode mudar o mundo, ou, pelo menos, o nosso mundo.

       A revolução farroupilha (1835 - 1845) ocorreu no Rio Grande do Sul e teve como principal estopim a política econômica imperialista que afetava aquela região. Os farroupilhas (assim chamado pelo pano que usavam) estavam dispostos a lutar pela causa pecuária, pois mesmo se muito produziam, pouco recebiam por isso. Não queriam, a princípio, retirar o poder do imperador, mas essa revolta reverberou pelo Brasil inteiro, dando exemplo para outras revoltas como a Sabinada, a Balaiada e até mesmo a inconfidência mineira.



       Em 1961, o então eleito presidente Jânio Quadros renunciava antes mesmo de tomar sua posse em frente a república. E antes que o seu vice-presidente, João Goulart, assumisse a presidência, foi implementado no Brasil um regime parlamentarista. Jango, assim conhecido, lançara o plano trienal para salvar a economia, e após plebiscito em 1963, voltava a república presidencialista. E, em 64, o golpe militar. O curioso era que a campanha publicitaria apareceu em peso, dizendo que o Brasil não poderia virar um país socialista, até mesmo comunista. Os povos foram a rua e os militares assumiram o país.

      Mas nem tudo são flores. A revolta da chibata (1910) mobilizou mais de 2000 marinheiros que reivindicavam a extinção dos castigos físicos que aconteciam dentro da marinha. Porém, toda e qualquer forma de protesto era visto como ato de vadiagem e violência. Até que os marinheiros tomaram navios da marinha e viraram seus canhões para a baia de Guanabara, prometendo atirar contra terras brasileiras se os castigos não fossem extinguidos. O governo então aceitou, mas só após alguns ataques de João Cândido ao Palácio do Catete. E aqui a história se diverge, pois no mesmo dia em que foi expedido a anistia aos revoltosos, navios que não aderiram a revolta contra-atacaram os navios contra a chibata, causando mais de mil mortes e feridos. No fim, quatro dia depois, os castigos físicos foram abolidos. Mas um dia depois, os marinheiros da revolta foram expulsos.

       Se as revoltas existem é porque existem insatisfeitos. E se a revolta é grande é devido a existência de muitos insatisfeitos. Aqueles que se acomodam no poder, virando os olhos para o próprio bolso e não para aqueles que o elegeram esta fadado a ser o alvo de protestos, mesmo que estes demorem. E eles estão demorando até demais.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Tarot - Episódio: Vânia

       Seguindo os contos da série Tarot - Em busca do amor incerto. Seguindo agora, os episódios tem o nome das  mulheres que Pablo tenta se apaixonar para provar que a previsão de madame Emengarda está errada. Primeiro episódio aqui.

Vânia


       Depois do encontro desastroso que tivera com madame Emengarda, Pablo estava decidido a não fazer mais nada pelo resto do dia, pelo menos nada que o deixa-se com mais raiva. Então, voltara a fazer o que tinha começado a fazer naquele dia: ir para o trabalho.
       Pablo era programador de uma empresa de médio porte em New Castle, uma cidade inglesa. Não era lá grandes coisas, passava o dia inteiro sentado. Levantava-se apenas para tomar um café e para ir pra casa. Conhecia praticamente todo mundo do edifício, mas ser amigo deles era algo totalmente diferente. 
       Chegara, batera seu ponto e foi direto a sua mesa e ao bom e velho computador. O chamava de "bom" apenas para esquecer que o computador era mais lerdo do que um golfista na prancha de surf. Já cansara de fazer pedidos para que o trocassem, mas teria de ser o dele e mais duzentos computadores, então preferiam deixar como estava até estragar de vez. Enquanto isso, Pablo não tinha o que fazer, a não ser esperar.
       As palavras da cartomante enevoavam seus pensamentos. Ele tentava se distrair com outras coisas. Ouvia um pouco de música, tentava ler algum jornal ou revista velha. Até tentava conversar com alguém ao seu lado. Mas o único alguém era Vânia, que estava extremamente ocupada com seus programas e códigos.
       "Por três longos anos irá pelejar a procura do amor!". Essas palavras iam e voltavam em sua cabeça. "E só ira encontrá-lo no aniversário de três anos da tarologia em sua vida!". Estava tão distante, tentando esquecer essas palavras, que não notara que a tela de seu computador já pedia-lhe a senha para que pudesse acessá-lo. E por duas horas se esqueceu de seu dia incomum.
       As três da tarde, ele se levantara para esticar as pernas, comer alguma coisa e depois voltar ao trabalho. Desligando-se de suas tarefas por poucos segundos, começou a pensar novamente na tarôloga. "Para o inferno ela! Ela, o Lou e a vaca da Shirley!" Estava começando a se estressar com isso.
       Ao final do trabalho, ele apenas desligara seu equipamento e resolvera pegar o metrô para casa. Apesar de ser perto, e ter que andar mais para pegar o trem, não queria passar nem perto da casa da madame Emengarda. Pelo menos não por enquanto. 
       Saia do prédio, descia as escadas da estação e se sentava, esperando seu transporte chegar com uma multidão de pessoas. Era o final do expediente e todos aguardavam ansiosamente para chegar em casa. Até mesmo Pablo, que queria esquecer de vez este dia. Então o trem chegara e ele entrava. Mas era um dos último, tendo de ficar próximo a porta para que pudesse permanecer no metrô. Azar ou não, quando as portas se fechavam a frente dele, ele vira, sorrindo, madame Emengarda, em mais um de seus vários anúncios.
       Em um excesso de raiva, ele esmurrava a porta e chamava a atenção de todos. Não por ter danificado a porta, ou pelo barulho que ela fazia. Mas sim porque logo envolvia a mão a outra, choramingando pela dor que sentia. Parecia que tinha quebrado todos e mais alguns ossos da mão e do punho. Então encenava que tinha sido um acidente, deixando a todos risonhos ou até mesmo preocupados. 
       Já em casa, com a mão envolta a um saco de gelo, resolverá se sentar ao sofá e ligar a televisão. A sala de Pablo era um tanto modesta. Tinha 3 x 4 metros, com uma televisão em uma das paredes e o sofá encostado na parede oposta. Ainda havia um tapete, presente da mãe. Mais azar ainda, o dia seguinte seria o dia dos namorados. E, de cada 10 anúncios da TV, 11 eram sobre isso. Mais dor de cabeça.

- X -

      Dia seguinte tentava começar com o pé direito. Não dormira a noite pensando nas palavras da cartomante e em Shirley, dessa vez se lembrando do tempo em que demorara no banheiro do restaurante nos dia dos namorados do ano anterior. Se lembrara de um dos clientes entrar um pouco antes dela e sair um pouco depois. Estava com o humor azedo naquele dia.
        Já no trabalho, depois de contornar o quarteirão da casa da tarôloga para não correr o risco de ver ninguém de lá, estava decidido a tomar uma providência a respeito de sua situação. Batera o ponto, cumprimentava Vânia e se sentava, ligando seu computador-carroça novamente. Pensava então em uma solução.
       Beber até cair? Não... Ele não era de beber, muito menos até cair. Arrumar alguma prostituta por aí? Definitivamente não estava tão desesperado assim. Ir a uma festa? Ele estava tão animado que transformaria a balada em um triste velório. Quem sabe ajeitar aquele copo de café que estava na beirada da mesa?
       Café? Mesa? Ãh? No meio de seus pensamentos, devia ter colocado o café na beirada, mas já era tarde. Quando pensara em agir, metade do café estava no chão e a outra metade no vestido de sua companheira de trabalho. A sorte que o café não estava quente, mas mesmo assim teria de se ver com Vânia. E fora neste momento que reparara melhor na moça.
       Vânia devia ter aparentemente 22 anos. Tinha mais ou menos 1,70 de altura. Não era uma formosura, mas tinha sua beleza. Seus cabelos castanhos estavam divididos em duas tranças, e seus óculos de armação vermelho vinho deviam ter lentes de farois, pois nunca vira lentes tão grandes. Mas o que chamava a atenção dele era o sorriso dela. Apesar de estar nervosa pelo café derramado, era apenas por susto, pois entendia que tinha sido um acidente. Ela então se levantava e ia se limpar, enquanto Pablo rapidamente se levantava para chamar alguém para ajudar a limpar o chão.
       Enquanto limpava, e ao ver Vânia voltar, Pablo pensara que ela não era feia. O que será que ela fazia longe do trabalho? Onde morava? Será que tinha família? De repente, impulsionado pela praga da cartomante, Pablo estava decidido a convidá-la pra sair, ou outra coisa do gênero. Depois de terminar a limpeza, ele se sentava e estudava a melhor forma de fazer isso. O pior é que o pobre coitado não tinha nenhum jeito com as mulheres. Então, fazia o que tinha pensado em fazer de uma forma incomum.
       - É... Me desculpe de novo Vânia, não queria derramar café em você.
       - Não tem problema Pablo, essas coisas acontecem. - Ela dizia aquilo sem nem mesmo olhar para ele. Estava tão focada no trabalho que já tinha se esquecido do acidente.
       - Eu...eu estava pensando... poderia me desculpar com você lhe pagando uma cerveja, ou outra cosia se quiser. Não precisa ser hoje, pode ser depois, sei lá... quando tiver tem...
       - Legal, quando saímos vamos a um bar aqui perto. - Ela o atropelava e já aceitava sair com ele, apesar de Pablo não saber bem se ela tinha entendido o que ele tinha dito ou se ele mesmo tinha a entendido. Mas resolvera não fazer mais perguntas.
       No final do expediente, lá estavam os dois. Vânia guardava os grandes óculos e estavam os dois a caminho do bar. Ele percebia como os olhos dela eram lindos. Castanhos escuros, parecendo gotas de chocolate. Distraindo-se neles, acabara sendo pego quando ela olhou pra ele. Ambos ficaram envergonhados e não falaram nada pelo resto do caminho.
       Durante todo o "encontro", foram pouquíssimas palavras. Falaram um pouco de programação, beberam um pouco e depois apenas olhavam para os lados. Então, quando Pablo estava decidido a falar sobre algo mais intimo, uma sombra surgira as suas costas que tinha, pelo menos, metade do tamanho dele.
       Olhava pra trás e via um gigante de aproximadamente dois metros, sorrindo para ele. Não sabia o que tinha feito de errado agora, até Vânia levantar-se e abraçar aquele homem.
       - Pablo, este é Hans, meu noivo! Vamos nos casar daqui a quatro semanas!
       - Vou desencalhar meu amigo. Prazer, Hans!
      Neste momento, o brutamontes estendeu sua mão a Pablo. Ele só podia fazer o mesmo. E justamente a mão cujo esmurrara a porta do metrô foi a que ofereceu. Toda a dor que tinha sentido voltava novamente ao forte aperto de mão de Hans. Não teve como disfarçar, causando uma boa risada em Vânia e seu noivo.
       - Desculpe rapaz, parece que a Vânia vai se casar com um homem grosso. - Em seguida lhe dava um beijo.
       - Hum, seu besta. Sente-se conosco.
       Depois de cinco minutos de conversa, Pablo estava lá apenas segurando vela para os pombinhos. Tanto que nem percebera que ele se levantava e ia embora, deixando apenas algum dinheiro para pagar o dele e o de Vânia, como tinha prometido.
       Voltava pra casa e se sentava no sofá novamente. Assistia um pouco de TV e dava graças por ter menos anúncios do dia dos namorados naquele dia dos namorados. Então, levantava o saco de gelo que estava na mão duplamente machucada e o encarava.
       - Feliz dia dos namorados, saco de gelo idiota! - E esse fora um fracassado dia dos namorados para o pobre programador.

- FIM -

sábado, 8 de junho de 2013

Tarot - Contos sobre um divertido cético!

        Esses contos são de uma escritora britânica que ficarei feliz de postá-los aqui! Achei divertido a história, espero que gostem!



        Tarot - Em busca do amor incerto

        O relógio marcava 7:37 ao lado de Pablo, que ainda tirava um cochilo antes de ir pro trabalho. Os curtos cabelos negros estavam desgrenhados sobre o travesseiro. As cobertas no meio da manhã já tinham ido para o chão, deixando as costas largas a mostra. Usava uma calça de moletom e cueca, que estava um pouco amostra depois de rolar durante o sono. Agora já eram 7:40 e o relógio apitava mais alto que uma sirene de viatura. Com o susto, Pablo caia em cima das cobertas.
         -Será um longo dia... - repetia Pablo pra si mesmo.
         Ao se levantar, Pablo pensava na grande decepção que tivera com sua ex Shirley, ao encontrá-la com seus dois primos na cama dos pais dele. Era uma simples festa de bodas quando todos escutaram barulhos estranhos vindos do quarto. A última vez que vira a mulher estava correndo de costas apenas com metade de um babydoll. Os primos apenas sorriram e pediram desculpas, mas como tinham pelo menos o dobro do tamanho de Pablo e o triplo de músculos ao longo do corpo, o máximo que poderia fazer era chorar como uma criança.
          E para melhorar, era segunda-feira. Dia internacional da preguiça. Pisava em alguns lenços de papel usados na noite anterior, mas já se aprontava para sair para o trabalho. Colocava uma camisa social branca, uma calça social preta e um sapato preto. Arrumava os cabelos e colocava o crachá no bolso da camisa. Deixara tudo desarrumado no pequeno apartamento, logo a empregada chegaria pra arrumar.

        Passando pelas ruas, avistava um anúncio sobre um motel novo na cidade. "Deve arrumar uma quantidade absurda de idiotas" pensava ele. Nem acabara de sair de casa e já pensava na ex. A primeira vez que tinham ido ao motel tinha sido cômico. Ele dava um pequeno sorriso e uma lágrima escorria pelo rosto. Tentava pensar em outras coisas, mas não teve sucesso, pois o dia dos namorados estava próximo. 
         Cada anúncio que passava era uma lembrança que vinha a mente de Pablo. Até que um deles, pichado em muro, mostrava um que o deixara indignado: "Trago seu amor em três dias!". Uma tarôloga! Era só o que faltava! "Eu devia ir lá dar uma lição nessa charlatã! Isso sim!". E a cada segundo que pensava naquilo, juntava coragem para ir espancar qualquer um que falasse de amor.
             No próximo quarteirão vira o mesmo anuncio. E no próximo. E no próximo do próximo. "Essa velha deve estar por perto pra ter tanto anúncio assim!". Então, ao chegar a um quarteirão do trabalho, avistara algo que nunca tinha reparado antes. O letreiro dizia "CASA DA MADAME EMENGARDA: PREVISÃO DO FUTURO, TAROT E LEITURA DE MÃO". Era a chance que ele tinha para, pelo menos, rir da sua situação.
             Quando entrara na casa, perdia toda a coragem que tinha encontrado para bater na pobre senhora Emengarda que nada tinha a ver com sua triste história. Tinham dois gigantes na porta do escritório, cujo um deles era seu primo. Ao avistá-lo, ele abria um largo sorriso, e Pablo apenas fingia que não o conhecia.
              - O pablinho! A quanto tempo! Não o vejo desde as bodas dos padrinhos! Que festa em!
             - É... Que festa... - Parecia que o brutamontes não tinha a menor ideia do que tinha feito com ele, mas o quanto menos se falassem era melhor, então preferia não esticar o papo.
            Quando o segurança estava prestes a lhe dar um belo abraço de urso, como costumava fazer quando eram pequenos, surge uma senhora que parecia ser mais velha que a terra na porta do escritório. Pablo se aliviava.
              - Madame Emengarda ao seu dispor meu jovem! Desde que possa pagar pelos meus serviços, é claro...
                - Oh! Madame Emengarda! Que prazer finalmente conhece-la! - E Pablo se sentia um inútil por ter que disfarçar toda a raiva que sentia, se ajoelhando aos pés da cartomante e beijando o anel em seus dedos para que o segurança não lhe desse o abraço.
               - Vamos entrando, vamos entrando... - E logo ela já o puxava para sua sala, fechando a porta atrás dela.
                A sala tinha um incenso barato que se achava em qualquer feira livre hipster. As janelas eram cobertas por cortinas finas de várias cores, uma sobre as outras, parecendo mais um circo do que uma sala de cartomante. No teto, um lustre enorme, mas não era muito alto, pois o comodo tinha mais ou menos dois metros e meios. Mas Pablo pode contar pelo menos 10 lâmpadas acesas ali. A mesa era redonda e havia uma bola de cristal ao meio, como não poderia deixar de ser. Havia mais uma mesa encostada em uma das paredes com alguns objetos que a tarôloga usava. Ela então se sentava em uma cadeira que mais aprecia um trono e olhava atentamente para o novo cliente, gesticulando para se assentar.
                 - Então Pablo, pelo visto, deseja o amor em três dias, correto? - Ela soltava um pequeno sorriso por se lembrar da louca história que um dos seguranças comentaram a respeito de uma louca festa em família.
              Pablo ficara pasmo. Ela sabia o nome dele, mas como? Não contara pra ninguém desde que chegara ali e, de repente, tudo estava esclarecido. O primo dele deveria ter espalhado pra Deus e o mundo a história das bodas dos pais. Então sorria também, ficando mais seguro de si e debruçando sobre a mesa com a bola de cristal.
              - Bem madame Emengarda, não era bem o que eu queria, mas sim, desejo sim. Poderia me ajudar? Estou desesperado e não faz ideia o quanto. - Se a cartomante percebeu a ironia nas falas, não tinha manifestado. Então, prosseguira com a consulta.
                 - Tudo bem. Eu normalmente não vejo a sorte para trazer o amor, mas como é primo do grande Lou, acho que posso fazer esse agrado. - Então, com um rápido movimento das mãos, a bola de cristal sumiu em um compartimento da mesa, dando lugar a uma caxa que aparecia mais ao extremo da mesa. Madame Emengarda abria a caixa e revelava um baralho incomum, que Pablo deduzia ser o famoso tarot. Ela habilmente tomou o baralho, o embaralhou e o colocou em cima da mesa. No que se tratava de previsão do futuro, estava totalmente entendida do assunto. Estar entendida no assunto era ter lido dois ou três manuais de tarot e ter acertado algumas poucas vezes. Então, estendia o baralho pra ele. - Corte por favor, Pablo.
               Ele resolvera entrar na brincadeira, ou então teria de se ver com o "pequeno e dócil" Lou. Cortara ao baralho ao meio e, antes que pudesse elevar muito a mão, ela já puxava o baralho da mão dele.
              - É para não atrapalhar os espíritos.
              Então depositou o baralho ao lado do resto, puxando algumas cartas. Deixava três fileiras e três colunas, revelando primeiro a do meio. 
           Neste momento, toda a charlatanisse de madame Emengarda estremecia. Algo estava diferente. Poderia ser o vinho que estava bebendo a 15 minutos atrás, ou então um efeito colateral do incenso. A carta que viera era os amantes, e estava de cabeça pra baixo.
               - Meu rapaz, tem passado por decepções amorosas, ãh? Mas nada que o velho Lou não tenha nos... Vamos a próxima. - Quase que ela revela que já sabia da história de Pablo. Mas então voltava a revelar as cartas.
                Pablo também ficara pouco avontade. Todos conheciam sua história. Menos um baralho cheio de gravuras bonitinhas. Mas mesmo assim dava pouco crédito a madame Emengarda.
             A próxima que escolheria seria a carta de cima, mas algo fez seus instintos revelar a carta da esquerda. Aquela não era uma boa escolha, pensava a Tarôloga. Aquela seria uma das cartas menores, reveladas apenas para complemento das outras. Mas então, mais uma surpresa. Aquela era uma dos 22 arcanos maiores do tarot: O carro.
                 Estava de cabeça pra cima pelo menos. E tudo o que a cartomante pensara em falar naquele momento era substituído por palavras que ela nem pensara em falar para um pobre coitado daquele.
                  - Ah! Vejo aqui que não tens o que temer. Deve seguir em frente, independentemente do que disserem ou pensarem sobre você. O carro simboliza a perseverança, a volta por cima! Seja forte neste momento!
                 Era uma cartomante ou uma mãe? Ela ficava um tanto confusa sobre o que dissera, e nem pensara em falar coisas boas, pois nunca atrairia clientes falando daquela maneria. Todos gostavam de tragédias! E era assim que ganhava seu pão de cada dia.
                  Pablo murchava na cadeira. Se a primeira carta lhe dava uma ponta de esperança sobre seu futuro, aquela tinha o deixado completamente indiferente. Todos diziam aquilo, não era preciso pagar uma cartomante para falar. Então, em total falta de ordem neste momento, revelava a carta na diagonal da direita acima, outra dos 22 arcanos. As cartas maiores não apareciam com frequência assim. Pelo menos não do jeito que ela sempre embaralhava. Se perguntava se tinha feito tudo certo
               Eis a terceira carta: a roda da fortuna.
           Pelo menos estava de cabeça pra baixo, poderia falar mal dele.
           - Hum...você ainda vai passar por muitas provações e falta de sorte. Mas não se preocupe, "o carro" ainda vai fazer você se dar bem rapaz.
            O que madame Emengarda pensava tinha fundamento. Ao menor índice de falta de sorte, Pablo ja se mostrava mais interessado no seu futuro. Ainda não acreditava, mas tinha curiosidade para ver o que sairia dali. A cartomante então revelava a carta a direita: a justiça.
            Novamente seus pensamentos foram inundados de palavras e, quando dera conta, já tinha falado tudo o que pensava naquele momento.
              - Se tem problema com o que justou ou não, não se preocupe. A justiça será feita e Shirley também não escapara dela. - Shirley? Quem diabos era Shirley? Lou tinha espalhado a história e até mencionara Pablo. Mas a cartomante não tinha ideia de quem era Shirley.
             Só de pensar em Shirley, Pablo já ficava irritado novamente. Mas a ideia de que ela teria justiça era algo que lhe confortava. Até o permitia dar um pequeno sorriso.
             As próximas cartas que saíram eram todos arcanos menores. Ela então encenava como seria a vida dele a partir dali, deixando Pablo cada vez mais curioso sobre o ultimo arcano, cujo a tarôloga afirmava ser a revelação do futuro.
             Já tinha se passado meia hora, e então madame Emengarda colocava a mão sobre a carta maior. Ela sentia um calafrio, e então as luzes ficaram mais fracas. A sala se envolvera com incenso forte e parecia que o mundo tinha ficado escuro, a não ser pelas luzes fracas do lustre. Eis que a ultima carta, a carta da coluna do meio, em cima da primeira revelada, era virada: o sol.
              Tudo o que ela preparava para falar ia por água abaixo novamente. E uma voz, mais grave que a dela, falava em seu lugar:
               - Seu fim será feliz Pablo. Seu amor virá e vocês iram viver felizes debaixo da benção do sol. E ele não tarda a vir, são apenas poucos três... - Ela iria falar sobre três anos, mas isso iria deixar o rapaz arrasado pelo tempo de espera e o comum era três dias. Então, com se esforçando muito para conseguir falar o que queria falar, voltava a sua voz normal. - três dias...
               Pablo ficava irado. Três dias tinha dito ela. O que faria com que três dias fossem diferentes dos outros? Ele então se levantava e ameaçava partir pra cima dela. Mas se lembrava dos brutamontes do lado de fora e se conteve.
                - Passar bem, madame Emengarda! E espero que pare de mentir pra seus clientes ingênuos! - E pisando fundo, saiu da casa da cartomante antes que ela tivesse tempo de se recompor. Porém, os dois seguranças o barraram e o fizeram voltar pra sala. Neste momento, madame Emengarda encontrava-se de pé, olhando furiosa para ele.
           - Você acha que pode vir até madame Emengarda e a tratá-la como uma qualquer? Se não acredita, não tenho nada haver com isso, mas pague o que deve!
            - Eu nunca vou pagar alguém apenas por dizer uma dúzia de besteiras e depois dizer que vou encontrar o amor em três dias!
             - Então lhe rogo uma praga Pablo! Por três longos anos irá pelejar a procura do amor! E só ira encontra-lo no aniversario de três anos de tarologia em sua vida! Vá, e nunca mais ponha os pés nesta respeitável casa!
              E antes que pudesse retrucar, já estava sendo atirado na rua por Lou, que não sentia o minimo remorso por fazer aquilo, algo que fazia desde que eram crianças.
              Pablo voltava seu caminho para o trabalho, pensando no que madame Emengarda tinha dito. Seria verdade? Não...passado algum tempo iria esquecer Shirley e encontraria alguém. E não seria em tanto tempo assim. Ir aquela cartomante pelo menos o fez se sentir melhor, pensando nos pobres coitados que acreditavam nela e rindo da situação.

- FIM - 

Bem, ainda postarei dois ou três capítulos, mas apenas se fizer sucesso, se não é trabalho a toa u.u Mas leiam, é interessante!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

É preciso amar, mas é preciso pensar também!


        Conversando e pensando sobre vários assuntos ao mesmo tempo, pois assim que é bom =D, me deparei com a seguinte questão: o que uma pessoa faz quando tem expectativa? E o que essa pessoa faz com as outra pessoas por causa dessa puta clássica expectativa? Planos de vida, ideais e bom senso, tudo vai por água abaixo quando falamos de expectativa.
        Segundo o pai dos burros, expectativa é condição de quem espera pela ocorrência de alguma coisa. E isso, sinceramente, é uma merda. Esperar por alguma coisa, ainda mais se tal coisa for o ser humano, que comete falhas e sabe se perdoar muito bem, é frustrante. Daí parto de uma ideia que tem me deixado pelo menos mais esperançoso com a humanidade: amar sem esperar.
        Isso me faz deixar de pensar em como seriam as cosias se tudo tivesse ocorrido do meu jeito, e tentar usar meu jeito para mudar as coisas. Se eu recebo ligações a noite de pessoas chorando que só falam comigo quando tem problemas, eu as escuto, eu falo o que penso a respeito, e sigo conversando com o pobre individuo que ta infeliz. Se fico indignado por fazer coisas para outros sem ter o devido reconhecimento, eu penso como é bom saber que podem contar comigo sem esperar nada em troca. Mas é difícil achar pessoas assim (já desiste de achar a humildade também, inclusive em mim =D). 
        Falar é bem fácil. Esperar é fácil. Pensar que isso e aquilo vai acontecer também é facílimo. Fazer acontecer é um pouco mais complicado. Aplaudir o que acontece sem ser aquilo que queremos é mais difícil ainda. Uma vez ouvi que: "toda boa intenção tem uma má intenção por trás". E é bem verdade. Quando se faz algo apenas por ajudar parece ser algo meio improdutivo. Pra mim não é. Eu gosto de ajudar as pessoas, sem abusos é claro.
           Taí, uma matéria sem pé nem cabeça que deu na telha de postar. Mas é justamente o que eu tava pensando hoje. Tentem ter menos expectativas. Vai ver como as coisas vão melhorar!