sábado, 8 de junho de 2013

Tarot - Contos sobre um divertido cético!

        Esses contos são de uma escritora britânica que ficarei feliz de postá-los aqui! Achei divertido a história, espero que gostem!



        Tarot - Em busca do amor incerto

        O relógio marcava 7:37 ao lado de Pablo, que ainda tirava um cochilo antes de ir pro trabalho. Os curtos cabelos negros estavam desgrenhados sobre o travesseiro. As cobertas no meio da manhã já tinham ido para o chão, deixando as costas largas a mostra. Usava uma calça de moletom e cueca, que estava um pouco amostra depois de rolar durante o sono. Agora já eram 7:40 e o relógio apitava mais alto que uma sirene de viatura. Com o susto, Pablo caia em cima das cobertas.
         -Será um longo dia... - repetia Pablo pra si mesmo.
         Ao se levantar, Pablo pensava na grande decepção que tivera com sua ex Shirley, ao encontrá-la com seus dois primos na cama dos pais dele. Era uma simples festa de bodas quando todos escutaram barulhos estranhos vindos do quarto. A última vez que vira a mulher estava correndo de costas apenas com metade de um babydoll. Os primos apenas sorriram e pediram desculpas, mas como tinham pelo menos o dobro do tamanho de Pablo e o triplo de músculos ao longo do corpo, o máximo que poderia fazer era chorar como uma criança.
          E para melhorar, era segunda-feira. Dia internacional da preguiça. Pisava em alguns lenços de papel usados na noite anterior, mas já se aprontava para sair para o trabalho. Colocava uma camisa social branca, uma calça social preta e um sapato preto. Arrumava os cabelos e colocava o crachá no bolso da camisa. Deixara tudo desarrumado no pequeno apartamento, logo a empregada chegaria pra arrumar.

        Passando pelas ruas, avistava um anúncio sobre um motel novo na cidade. "Deve arrumar uma quantidade absurda de idiotas" pensava ele. Nem acabara de sair de casa e já pensava na ex. A primeira vez que tinham ido ao motel tinha sido cômico. Ele dava um pequeno sorriso e uma lágrima escorria pelo rosto. Tentava pensar em outras coisas, mas não teve sucesso, pois o dia dos namorados estava próximo. 
         Cada anúncio que passava era uma lembrança que vinha a mente de Pablo. Até que um deles, pichado em muro, mostrava um que o deixara indignado: "Trago seu amor em três dias!". Uma tarôloga! Era só o que faltava! "Eu devia ir lá dar uma lição nessa charlatã! Isso sim!". E a cada segundo que pensava naquilo, juntava coragem para ir espancar qualquer um que falasse de amor.
             No próximo quarteirão vira o mesmo anuncio. E no próximo. E no próximo do próximo. "Essa velha deve estar por perto pra ter tanto anúncio assim!". Então, ao chegar a um quarteirão do trabalho, avistara algo que nunca tinha reparado antes. O letreiro dizia "CASA DA MADAME EMENGARDA: PREVISÃO DO FUTURO, TAROT E LEITURA DE MÃO". Era a chance que ele tinha para, pelo menos, rir da sua situação.
             Quando entrara na casa, perdia toda a coragem que tinha encontrado para bater na pobre senhora Emengarda que nada tinha a ver com sua triste história. Tinham dois gigantes na porta do escritório, cujo um deles era seu primo. Ao avistá-lo, ele abria um largo sorriso, e Pablo apenas fingia que não o conhecia.
              - O pablinho! A quanto tempo! Não o vejo desde as bodas dos padrinhos! Que festa em!
             - É... Que festa... - Parecia que o brutamontes não tinha a menor ideia do que tinha feito com ele, mas o quanto menos se falassem era melhor, então preferia não esticar o papo.
            Quando o segurança estava prestes a lhe dar um belo abraço de urso, como costumava fazer quando eram pequenos, surge uma senhora que parecia ser mais velha que a terra na porta do escritório. Pablo se aliviava.
              - Madame Emengarda ao seu dispor meu jovem! Desde que possa pagar pelos meus serviços, é claro...
                - Oh! Madame Emengarda! Que prazer finalmente conhece-la! - E Pablo se sentia um inútil por ter que disfarçar toda a raiva que sentia, se ajoelhando aos pés da cartomante e beijando o anel em seus dedos para que o segurança não lhe desse o abraço.
               - Vamos entrando, vamos entrando... - E logo ela já o puxava para sua sala, fechando a porta atrás dela.
                A sala tinha um incenso barato que se achava em qualquer feira livre hipster. As janelas eram cobertas por cortinas finas de várias cores, uma sobre as outras, parecendo mais um circo do que uma sala de cartomante. No teto, um lustre enorme, mas não era muito alto, pois o comodo tinha mais ou menos dois metros e meios. Mas Pablo pode contar pelo menos 10 lâmpadas acesas ali. A mesa era redonda e havia uma bola de cristal ao meio, como não poderia deixar de ser. Havia mais uma mesa encostada em uma das paredes com alguns objetos que a tarôloga usava. Ela então se sentava em uma cadeira que mais aprecia um trono e olhava atentamente para o novo cliente, gesticulando para se assentar.
                 - Então Pablo, pelo visto, deseja o amor em três dias, correto? - Ela soltava um pequeno sorriso por se lembrar da louca história que um dos seguranças comentaram a respeito de uma louca festa em família.
              Pablo ficara pasmo. Ela sabia o nome dele, mas como? Não contara pra ninguém desde que chegara ali e, de repente, tudo estava esclarecido. O primo dele deveria ter espalhado pra Deus e o mundo a história das bodas dos pais. Então sorria também, ficando mais seguro de si e debruçando sobre a mesa com a bola de cristal.
              - Bem madame Emengarda, não era bem o que eu queria, mas sim, desejo sim. Poderia me ajudar? Estou desesperado e não faz ideia o quanto. - Se a cartomante percebeu a ironia nas falas, não tinha manifestado. Então, prosseguira com a consulta.
                 - Tudo bem. Eu normalmente não vejo a sorte para trazer o amor, mas como é primo do grande Lou, acho que posso fazer esse agrado. - Então, com um rápido movimento das mãos, a bola de cristal sumiu em um compartimento da mesa, dando lugar a uma caxa que aparecia mais ao extremo da mesa. Madame Emengarda abria a caixa e revelava um baralho incomum, que Pablo deduzia ser o famoso tarot. Ela habilmente tomou o baralho, o embaralhou e o colocou em cima da mesa. No que se tratava de previsão do futuro, estava totalmente entendida do assunto. Estar entendida no assunto era ter lido dois ou três manuais de tarot e ter acertado algumas poucas vezes. Então, estendia o baralho pra ele. - Corte por favor, Pablo.
               Ele resolvera entrar na brincadeira, ou então teria de se ver com o "pequeno e dócil" Lou. Cortara ao baralho ao meio e, antes que pudesse elevar muito a mão, ela já puxava o baralho da mão dele.
              - É para não atrapalhar os espíritos.
              Então depositou o baralho ao lado do resto, puxando algumas cartas. Deixava três fileiras e três colunas, revelando primeiro a do meio. 
           Neste momento, toda a charlatanisse de madame Emengarda estremecia. Algo estava diferente. Poderia ser o vinho que estava bebendo a 15 minutos atrás, ou então um efeito colateral do incenso. A carta que viera era os amantes, e estava de cabeça pra baixo.
               - Meu rapaz, tem passado por decepções amorosas, ãh? Mas nada que o velho Lou não tenha nos... Vamos a próxima. - Quase que ela revela que já sabia da história de Pablo. Mas então voltava a revelar as cartas.
                Pablo também ficara pouco avontade. Todos conheciam sua história. Menos um baralho cheio de gravuras bonitinhas. Mas mesmo assim dava pouco crédito a madame Emengarda.
             A próxima que escolheria seria a carta de cima, mas algo fez seus instintos revelar a carta da esquerda. Aquela não era uma boa escolha, pensava a Tarôloga. Aquela seria uma das cartas menores, reveladas apenas para complemento das outras. Mas então, mais uma surpresa. Aquela era uma dos 22 arcanos maiores do tarot: O carro.
                 Estava de cabeça pra cima pelo menos. E tudo o que a cartomante pensara em falar naquele momento era substituído por palavras que ela nem pensara em falar para um pobre coitado daquele.
                  - Ah! Vejo aqui que não tens o que temer. Deve seguir em frente, independentemente do que disserem ou pensarem sobre você. O carro simboliza a perseverança, a volta por cima! Seja forte neste momento!
                 Era uma cartomante ou uma mãe? Ela ficava um tanto confusa sobre o que dissera, e nem pensara em falar coisas boas, pois nunca atrairia clientes falando daquela maneria. Todos gostavam de tragédias! E era assim que ganhava seu pão de cada dia.
                  Pablo murchava na cadeira. Se a primeira carta lhe dava uma ponta de esperança sobre seu futuro, aquela tinha o deixado completamente indiferente. Todos diziam aquilo, não era preciso pagar uma cartomante para falar. Então, em total falta de ordem neste momento, revelava a carta na diagonal da direita acima, outra dos 22 arcanos. As cartas maiores não apareciam com frequência assim. Pelo menos não do jeito que ela sempre embaralhava. Se perguntava se tinha feito tudo certo
               Eis a terceira carta: a roda da fortuna.
           Pelo menos estava de cabeça pra baixo, poderia falar mal dele.
           - Hum...você ainda vai passar por muitas provações e falta de sorte. Mas não se preocupe, "o carro" ainda vai fazer você se dar bem rapaz.
            O que madame Emengarda pensava tinha fundamento. Ao menor índice de falta de sorte, Pablo ja se mostrava mais interessado no seu futuro. Ainda não acreditava, mas tinha curiosidade para ver o que sairia dali. A cartomante então revelava a carta a direita: a justiça.
            Novamente seus pensamentos foram inundados de palavras e, quando dera conta, já tinha falado tudo o que pensava naquele momento.
              - Se tem problema com o que justou ou não, não se preocupe. A justiça será feita e Shirley também não escapara dela. - Shirley? Quem diabos era Shirley? Lou tinha espalhado a história e até mencionara Pablo. Mas a cartomante não tinha ideia de quem era Shirley.
             Só de pensar em Shirley, Pablo já ficava irritado novamente. Mas a ideia de que ela teria justiça era algo que lhe confortava. Até o permitia dar um pequeno sorriso.
             As próximas cartas que saíram eram todos arcanos menores. Ela então encenava como seria a vida dele a partir dali, deixando Pablo cada vez mais curioso sobre o ultimo arcano, cujo a tarôloga afirmava ser a revelação do futuro.
             Já tinha se passado meia hora, e então madame Emengarda colocava a mão sobre a carta maior. Ela sentia um calafrio, e então as luzes ficaram mais fracas. A sala se envolvera com incenso forte e parecia que o mundo tinha ficado escuro, a não ser pelas luzes fracas do lustre. Eis que a ultima carta, a carta da coluna do meio, em cima da primeira revelada, era virada: o sol.
              Tudo o que ela preparava para falar ia por água abaixo novamente. E uma voz, mais grave que a dela, falava em seu lugar:
               - Seu fim será feliz Pablo. Seu amor virá e vocês iram viver felizes debaixo da benção do sol. E ele não tarda a vir, são apenas poucos três... - Ela iria falar sobre três anos, mas isso iria deixar o rapaz arrasado pelo tempo de espera e o comum era três dias. Então, com se esforçando muito para conseguir falar o que queria falar, voltava a sua voz normal. - três dias...
               Pablo ficava irado. Três dias tinha dito ela. O que faria com que três dias fossem diferentes dos outros? Ele então se levantava e ameaçava partir pra cima dela. Mas se lembrava dos brutamontes do lado de fora e se conteve.
                - Passar bem, madame Emengarda! E espero que pare de mentir pra seus clientes ingênuos! - E pisando fundo, saiu da casa da cartomante antes que ela tivesse tempo de se recompor. Porém, os dois seguranças o barraram e o fizeram voltar pra sala. Neste momento, madame Emengarda encontrava-se de pé, olhando furiosa para ele.
           - Você acha que pode vir até madame Emengarda e a tratá-la como uma qualquer? Se não acredita, não tenho nada haver com isso, mas pague o que deve!
            - Eu nunca vou pagar alguém apenas por dizer uma dúzia de besteiras e depois dizer que vou encontrar o amor em três dias!
             - Então lhe rogo uma praga Pablo! Por três longos anos irá pelejar a procura do amor! E só ira encontra-lo no aniversario de três anos de tarologia em sua vida! Vá, e nunca mais ponha os pés nesta respeitável casa!
              E antes que pudesse retrucar, já estava sendo atirado na rua por Lou, que não sentia o minimo remorso por fazer aquilo, algo que fazia desde que eram crianças.
              Pablo voltava seu caminho para o trabalho, pensando no que madame Emengarda tinha dito. Seria verdade? Não...passado algum tempo iria esquecer Shirley e encontraria alguém. E não seria em tanto tempo assim. Ir aquela cartomante pelo menos o fez se sentir melhor, pensando nos pobres coitados que acreditavam nela e rindo da situação.

- FIM - 

Bem, ainda postarei dois ou três capítulos, mas apenas se fizer sucesso, se não é trabalho a toa u.u Mas leiam, é interessante!

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